What can you see with only a pair of glasses?

Mount Bromo, Indonesia

ENG//POR

by Julie Ahn

It is true that I am still really young and I have so much to learn. It is also true that I lack wisdom and experience. Yet, I believe that living is a learning process so that is why I want to share my experiences and reflections. Few things remain as time passes and experiences are one of them. So yeah, bear with me for a while.

Before anything, I want to make one thing clear:  This is not a post about convincing you of how “fun” and “exciting” traveling is. I know that most people enjoy traveling because honestly, who does not enjoy an adventurous voyage? I want to share with you another view of the word “to travel”. The way people often talk about traveling is sharing how “cool” things are and the pictures of the greatest sights they have seen. They are all fun and I don’t want to in any way say that all these moments are not part of traveling. They are. But, I truly believe that going in a journey goes far beyond these experiences. Unlike most people’s opinions, I believe that “to travel” means to go anywhere that is not home- away from one’s comfort zone. I have learned so much from leaving home. Lessons that stretch far beyond knowing other people and culture. They were lessons to understand who I am and where I came from. Honestly, I thought I knew my background and myself quite well until I was given the chance to leave home and soon everything changed.

I am Korean-Brazilian. I am 19 years old and a sophomore in college. Out of everything I learned thus far, my understanding of “traveling” was the greatest lesson.  When I moved to college, I didn’t know anyone or anything really about the place I was about to go (What was I thinking??). Out of all the colleges I applied to, this one was of the few that I didn’t visit. It sounds pretty cool right? I mean no one here knows you, your background or your family. You can be anyone you want to because honestly, no one knows you so they are going to just accept what you present to them. It is a new start. But I was scared too. Out of so many options, whom should I choose to be? Or did I know myself enough to be myself? Even more, it was time to “transition” cultures and during this transition, I started to realize my own habits, my culture and what I am used to doing and the things I had to let go to “fit” in the new culture.

I’ve never suffered so much in my life before coming here but I never learned so much too. It was the worst time of my life but the best time thus far. Standing back, I can see my life in a whole different pair of lenses. One can “know” a lot but that is completely different from actually understanding with one’s heart. So, “traveling” was a way of doing that. I got to understand my background, my family and myself better. The fact that I was much more “Brazilian” than I looked, understanding how much I care for my family and how much they love me. I understood with my heart of how blessed I was for having a supportive family who would be willing to sacrifice so much to give an opportunity that they never had before. Traveling made me wear by grandparents’ shoes for the first time in my life. I would not have realized how difficult it is to transition and the sacrifice they made so that one day, a kid like me, could be able to choose and go far beyond of what was once possible for them.

Even more, I understood what “home” meant to me. There’s no real meaning in the word “traveling” without home – if traveling means being away from “home”. So, “home” never meant so much as it does today: I am even more grateful and passionate about having a home that I can always rest and rely on after a long time traveling- all with the privilege of having gained other new pairs of lenses/eyes to understand myself, my background and the world around me.

“The real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes.” – Marcel Proust

//Português

por Julie Ahn

O quê você consegue ver com um só par de lentes?

É verdade que eu sou muito jovem e ainda tenho muito a aprender. E também é verdade que tenho um longo caminho pela frente, e por isso, talvez você não concorde com as minhas conclusões e opiniões. Porém, foi através de um pedido do Wilson, que tomei coragem para compartilhar alguns dos meus pensamentos. Ele queria que eu falasse um pouco sobre o significado de “viajar” e qual o sentido disso para mim.

Antes de começar, queria de deixar uma coisa bem clara: não estou escrevendo para convencer ninguém que viajar é “da hora” ou “demais”. Sei que muitas pessoas, inclusive eu, amam viajar porque, cá entre nós, quem não gosta de um pouco de aventura? Porém, quero de compartilhar uma outra perspectiva do significado de viajar. Geralmente, a forma como as pessoas falam sobre a viagem é compartilhando o quão legal é a experiência, juntamente com as fotos de lugares impressionantes que elas viram. Eu também amo fazer esses rituais quando eu saio e sei que tudo isso faz parte. Porém, eu realmente acredito que viajar vai além dessas experiências – viajar significa, para mim, estar longe de “casa”; ou seja, estar fora da zona de conforto. Aprendi muito por ter deixado minha casa por um tempo. Além de aprender sobre outras culturas, ou de como interagir com pessoas completamente diferentes do meu círculo, o que mais aprendi foi sobre quem eu sou e minhas origens. Para ser bem sincera, eu achava que eu me conhecia muito bem até chegar o dia em que tive a chance de sair de casa; e depois disso, tudo mudou.

Tenho 19 anos, sou brasileira de uma família coreana. Estou no meu segundo ano em uma faculdade nos Estados Unidos. De tudo que eu aprendi – como controlar meus gastos, e até me virar sem os meus pais – entender o significado de “viajar” foi o mais importante (obs.: tecnicamente, eu moro aqui, mas eu ainda acho que é uma viagem pelo fato de não me sentir em casa).  Quando me mudei para cá, não conhecia ninguém, e o que eu sabia desse lugar eram as fotos que eu via pela internet. Mas todo mundo sabe, expectativas e a realidade nem sempre batem. Parece muito legal né? Ninguém aqui te conhece, sejam os seus podres ou qualquer coisa que “queimou” seu filme. É um novo começo e parece que você tem controle de como você quer que as pessoas te vejam. Você pode escolher quem você quer ser. Mas a verdade é que eu fiquei com medo. De tantas opções, como eu escolheria quem eu queria ser? Ou, será que eu me conheço o suficiente para ser eu mesma? Além de tudo isso, foi um tempo de total adaptação. Eu comecei a perceber melhor os meus hábitos e a minha própria cultura. Eu estava acostumada a fazer as coisas de um jeito e precisei muda-las para poder me encaixar melhor nessa nova cultura.

Posso dizer com certeza que foi um dos melhores anos da minha vida, mas, também, um dos piores. Mesmo assim, nunca aprendi tanto de uma vez só. Quando eu acho que já entendi tudo o que eu deveria ter aprendido, vejo que ainda tem mais e assim vai (talvez, isso seja o mais interessante de viver). Agora, consigo olhar para a minha vida com outro par de lentes. É muito fácil entender com a cabeça, mas entender com o coração é outra história. Viajar me fez entender muitas coisas com o meu coração. Eu “entendi” a minha origem, minha família e a mim mesma. O fato de eu ser mais “brasileira” do que eu achava que era; compreender o quanto eu amo minha família e de como eles me amam também. Entendi o quão abençoada eu sou por ter uma família que sempre sacrificou e ainda sacrifica tanto por mim para que eu tenha oportunidades que eles nunca tiveram antes. Além do mais, viajar me fez caminhar na estrada que um dia meus avós caminharam quando imigraram para o Brasil (de forma alguma eu quero dizer que o meu sofrimento foi igual porque nada que eu passei vai se comparar por tudo eles passaram). Nunca teria entendido o quão difícil foi para eles essa transição e o quanto sacrificaram para que um dia, alguém como eu, pudesse ter várias escolhas e ir a lugares que um dia nem eles nunca poderiam ter sonhado em ir.

Ter uma “casa” nunca significou tanto para mim. Viajar não faz sentido sem ter uma “casa”, já que o significado disso é o estado de estar longe de lá. Sou muito grata e apaixonada por ter uma casa, um lugar onde sempre que puder, posso voltar e descansar depois de ter viajado por um longo tempo; tudo com o privilégio de ter agora um novo par de lentes/olhos para entender quem eu sou, a minha família e o mundo à minha volta.

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas, sim, em ter novos olhos”.  Marcel Proust